Por Patrícia Benvenuti no Opera Mundi
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, começa neste domingo (20/03) sua
primeira visita a Cuba. A viagem, que é também a primeira de um presidente
norte-americano em exercício em quase 90 anos, teria como objetivo consolidar a
relação entre os dois países, retomada em 17 de dezembro de 2014, após 53 anos
de ruptura.
O governo dos EUA tem afirmado também que a visita de Obama
à ilha é necessária para "discutir a questão dos direitos humanos" em
Cuba, mas para Nildo Ouriques, presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA) da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a viagem atenta para outros
interesses.
Para o professor do Departamento de Economia e Relações
Internacionais da UFSC, os Estados Unidos estão interessados em melhorar sua
própria posição no jogo geopolítico da região. “Cuba não mudou uma molécula de
sua posição, quem se rendeu foram os Estados Unidos, que estavam isolados na
América Latina”, diz Ouriques.
Desde a retomada de relações entre Cuba e EUA, há um ano e
três meses, houve uma série de ações de ambos os lados, como a liberação de
alguns prisioneiros políticos cubanos e a retirada de Cuba da lista de países
terroristas por parte dos Estados Unidos. Já Cuba libertou os 53 presos
políticos reivindicados pelos Estados Unidos.
Bloqueio
O principal motivo de impasse entre os dois países continua
sendo o bloqueio econômico, imposto aos cubanos há mais de cinco décadas. Na
última quinta-feira (17/03), o ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno
Rodriguez, afirmou em entrevista coletiva que, na prática, as restrições não
foram derrubadas. “O bloqueio segue e seguirá enquanto não se adotarem outras
decisões para levantá-lo definitivamente”.
No dia 15 de março, os Departamentos do Tesouro e do
Comércio dos Estados Unidos emitiram novos
regulamentos que modificam a aplicação de alguns aspectos do bloqueio
dos Estados Unidos a Cuba. Este é o quarto anúncio do gênero realizado pelo
governo dos EUA desde a reaproximação dos dois países no fim de 2014. Por se
tratar de uma lei, o bloqueio econômico imposto à ilha só pode ser revisto pelo
Congresso, cuja maioria republicana é contrária à medida.
O governo cubano classificou as mudanças como positivas, mas
disse estar avaliando seu impacto real. “Estamos estudando seu alcance e
efeitos práticos para comprovar sua viabilidade. Preliminarmente, pode-se
afirmar que as medidas são positivas”, afirmou Rodriguez.
Dentre as iniciativas consideradas benéficas por Havana está
a permissão para que barcos norte-americanos transportem mercadorias à ilha sem
qualquer ameaça de sanção. O novo pacote de medidas também inclui a autorização
para o uso do dólar nas transações internacionais por Cuba.
Também estão autorizadas viagens de cidadãos
norte-americanos para "fins educacionais". No entanto, segue a
determinação oficial de Washington de proibir viagens a turismo para Cuba,
medida classificada como “insana e injustificada” pelo chanceler cubano.
Tecnologia
As medidas anunciadas pelo governo norte-americano para
aliviar o bloqueio econômico não incluem a liberação da exportação de produtos
cubanos como medicamentos, vacinas e produtos biotecnológicos para os Estados
Unidos.
Nesse sentido, destaca Nildo Ouriques, a derrubada do
bloqueio também interessa à economia dos EUA. Empresários do país já disseram ser
contra as restrições, dado o interesse em ter acesso às inovações e tecnologias
cubanas, consideradas bastante avançadas. Cerca de 10% do PIB (Produto Interno
Bruto) cubano vem do setor de alta tecnologia. “Isso é uma vergonha para o
Brasil, que ainda está baseado em commodities”, diz o professor da UFSC.
Ouriques destaca também que, ao contrário da imagem passada
pela mídia tradicional e por alguns setores sociais e econômicos brasileiros, o
sistema cubano se caracteriza por mudanças constantes. Para o professor, Cuba
tem algo muito importante a ensinar ao Brasil, que é o valor de sua soberania.
“O que [os cubanos] estão fazendo na prática é garantir os direitos da
revolução e garantir sua soberania nacional, algo que está em falta por aqui”,
afirma.
Fonte: Solidários a Cuba