José Martí, herói da
guerra de independência cubana contra a Espanha, tece em seu memorável ensaio –
Nossa América – uma severa crítica à condição colonial
“O homem que se
conforma em obedecer a leis injustas, e permite que pisem, no país em que
nasceu, os homens que o maltratam, não é um homem honrado”
Por Dionisio Poey Baró
Prosa exuberante cheia de metáforas e imagens
alusivas à singularidade latino-americana; ideias sobre os desafios políticos
da América Latina no final do século XIX, expressas em linguagem poética;
comparação sintética da história das antigas colônias ibéricas e
anglo-saxônicas assentadas a ambos os lados do Continente, suas trajetórias,
atualidade e porvir; análise do papel que a história mundial reservara para uma
parte da América, a nossa, e o que se devia fazer para sair das trilhas
marcadas. Tudo isso está presente nesse instigador ensaio publicado por José
Marti em janeiro de 1891.
Nascido em Cuba em 1853, Marti se vinculou às
lutas independentistas contra o domínio espanhol na sua ilha, onde morreu
combatendo em maio de 1895. Ainda adolescente, por suas atividades políticas,
sofreu prisão, trabalhos forçados e um longo exílio que lhe permitiu enriquecer
seu pensamento. Em Madrid, conheceu as causas profundas da manutenção do
colonialismo espanhol. Em México, Guatemala e Venezuela, a realidade latino-americana,
a implantação das ideias liberais importadas da Europa e de Norte América e a
essência semelhante dos seus problemas e aspirações. Na New York cosmopolita,
onde sua permanência foi mais longa (1880-1895), entrou em contato com as
ideias mais avançadas da época no político, no social, no artístico-literário.
Observou o desenvolvimento do capitalismo e da política nessa nação e concluiu
que já estava pronta para se expandir sobre seus vizinhos do Sul, de maneira
inexorável. Desde então essa seria sua principal preocupação junto com a
organização da guerra independentista.
Nos seus artigos, publicados em importantes
jornais e revistas da Latino América – como La Nación , de Buenos Aires e El
Partido Liberal, de México –, que eram lidos com avidez pelos intelectuais e
políticos da época, alertava sobre a realidade norte-americana e seus desígnios
para o Sul. Neles eram constantes duas preocupações: América Latina tinha
ciência dos perigos? Estava em condições de seguir um caminho próprio num contexto
internacional em que as grandes potências capitalistas se repartiam o mundo e
iriam se confrontar?
O que fazer? perguntava-se: Imitar o caminho
percorrido antes pelas potências ou criar caminhos novos? Europeizar a América
ou andar com seus índios, seus negros, seus mestiços e seus brancos
crioulos? A batalha era entre a civilização e a barbárie ou entre a falsa
erudição e a natureza? Os países latino-americanos devem atender exclusivamente
a seus próprios interesses ou avançar integrados em paz e colaboração com os
vizinhos? As universidades latino-americanas ensinam a realidade peculiar dos
seus povos ou formam jovens com óculos ianques ou franceses para dirigir suas
nações?
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Dionisio Poey Baró é professor adjunto.
Faculdade de História da Universidade Federal do Pará e pesquisador do Núcleo
de Estudos Cubanos (NESCUBA) do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares
(CEAM) da Universidade de Brasília.
A edição bilíngue do livro Nostra América esta disponível para a compra no site da Editora UnB: Editora UnB - Nostra América
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Fonte: Correio do Livro da UnB