quinta-feira, 9 de julho de 2015

Nossa América e a luta pela soberania - Resenha da tradução do livro Nossa Ámerica. Por Dionisio Poey Baró

José Martí, herói da guerra de independência cubana contra a Espanha, tece em seu memorável ensaio – Nossa América – uma severa crítica à condição colonial

“O homem que se conforma em obedecer a leis injustas, e permite que pisem, no país em que nasceu, os homens que o maltratam, não é um homem honrado”

Por Dionisio Poey Baró

Prosa exuberante cheia de metáforas e imagens alusivas à singularidade latino-americana; ideias sobre os desafios políticos da América Latina no final do século XIX, expressas em linguagem poética; comparação sintética da história das antigas colônias ibéricas e anglo-saxônicas assentadas a ambos os lados do Continente, suas trajetórias, atualidade e porvir; análise do papel que a história mundial reservara para uma parte da América, a nossa, e o que se devia fazer para sair das trilhas marcadas. Tudo isso está presente nesse instigador ensaio publicado por José Marti em janeiro de 1891.

Nascido em Cuba em 1853, Marti se vinculou às lutas independentistas contra o domínio espanhol na sua ilha, onde morreu combatendo em maio de 1895. Ainda adolescente, por suas atividades políticas, sofreu prisão, trabalhos forçados e um longo exílio que lhe permitiu enriquecer seu pensamento. Em Madrid, conheceu as causas profundas da manutenção do colonialismo espanhol. Em México, Guatemala e Venezuela, a realidade latino-americana, a implantação das ideias liberais importadas da Europa e de Norte América e a essência semelhante dos seus problemas e aspirações. Na New York cosmopolita, onde sua permanência foi mais longa (1880-1895), entrou em contato com as ideias mais avançadas da época no político, no social, no artístico-literário. Observou o desenvolvimento do capitalismo e da política nessa nação e concluiu que já estava pronta para se expandir sobre seus vizinhos do Sul, de maneira inexorável. Desde então essa seria sua principal preocupação junto com a organização da guerra independentista.

Nos seus artigos, publicados em importantes jornais e revistas da Latino América – como La Nación, de Buenos Aires e El Partido Liberal, de México –, que eram lidos com avidez pelos intelectuais e políticos da época, alertava sobre a realidade norte-americana e seus desígnios para o Sul. Neles eram constantes duas preocupações: América Latina tinha ciência dos perigos? Estava em condições de seguir um caminho próprio num contexto internacional em que as grandes potências capitalistas se repartiam o mundo e iriam se confrontar?

O que fazer? perguntava-se: Imitar o caminho percorrido antes pelas potências ou criar caminhos novos? Europeizar a América ou andar com seus índios, seus negros, seus mestiços e seus brancos crioulos?  A batalha era entre a civilização e a barbárie ou entre a falsa erudição e a natureza? Os países latino-americanos devem atender exclusivamente a seus próprios interesses ou avançar integrados em paz e colaboração com os vizinhos? As universidades latino-americanas ensinam a realidade peculiar dos seus povos ou formam jovens com óculos ianques ou franceses para dirigir suas nações?

Em Nossa América, joia da ensaística e do pensamento latino-americano, estão resumidas sua ideias sobre o “dever ser” da política, a democracia, o poder, o racismo, o indigenismo, a educação e a história americana.
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Dionisio Poey Baró é professor adjunto. Faculdade de História da Universidade Federal do Pará e pesquisador do Núcleo de Estudos Cubanos (NESCUBA) do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (CEAM) da Universidade de Brasília.

A edição bilíngue do livro Nostra América esta disponível para a compra no site da Editora UnB: Editora UnB - Nostra América